
A linguagem audiovisual, sobretudo na televisão, apropriou-se muito rapidamente da publicidade e propaganda, bem como da ideia behaivoriana de estímulo-resposta. É muito fácil vislumbrar no Brasil esse fenômeno que também se associa muito ao sistema neoliberal implantado, sobretudo, pós-89 com o governo Collor e, posteriormente, com o Governo de ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Claro, é importante deixar claro que as mudanças ou as concepções do modelo de comunicação refletem diretamente o sistema e o modelo de sociedade. Sendo assim, é essencial pontuar que a televisão no País nasce, na década de 60, como um negócio. A empresa privada de televisão, a TV TUPI de Assis Chateaubriand é um marco, pois coloca a própria comunicação como um bem de interesse público e não como um serviço público.
Desse modo, o nascedouro da TV no Brasil é apenas a ponta do iceberg de problemas que se desenvolve desde então. O autor Luciano Correia é muito feliz em colocar a barbárie (ou “caos”) já citado anteriormente por César Bolaño onde a informação passa a ser encarada como uma mercadoria, um bem de consumo. A mercantilização da informação é um passo crucial para a sustentação do modelo vigente de televisão que temos.
A não reflexão do que é transmitido, coloca boa parte (lê-se a esmagadora maioria) dos expectadores sob o julgo do que é veiculado pelas emissoras principais da televisão aberta, reféns de um triste ciclo de “mais do mesmo”. E isso acaba tocando numa questão muito interessante, principalmente quando falamos de jornalismo.
O jornalismo diante do conceito de interesse público busca mostrar o que a empresa privada de comunicação entende que o seu público deseja ver. É a máxima do “expectador padrão” ou o “Homer Simpson” tão celebremente citado na colocação de Willian Bonner, âncora da TV Globo. Mas é preciso entender o problema para além dessa questão pontual. E isso perpassa por caminhos muitas vezes ignorados por boa parte dos autores. A própria concepção e as teorias que norteiam o jornalismo fazem com que ele caia nesse ciclo vicioso. Pois, há uma teoria que se fundamenta em pautar aquilo que obedece a ordem da organização, da logística da empresa jornalística (fluxo de equipamento, pessoas e transporte num menos espaço, tempo e custo), assim como há outra teoria que coloca que o agendamento das questões deve se pautar não mais no furo, mas sim em dar aquilo que é esperado. O que é esperado hoje, no Brasil, em termos de notícia?
A resposta, aparentemente complexa, é simples! É uma abordagem factual, muitas vezes tendenciosa e pouco respeitosa com os próprios princípios do jornalismo que dissimula sob as falácias da imparcialidade, objetividade e factualidade. Por que uma falácia?
Porque aceitando o jornalismo como algo feito por seres humanos, entendemos que há subjetividade e, aceitando a subjetividade, estamos aceitando também o fato de que há posição. Ser parcial significa tomar parte, escolher um lado. Não significa, entretanto, que apenas aquele lado deverá ser mostrado. Muito pelo contrário, admitir a parcialidade é o primeiro passo, na minha visão, para de construir algo realmente credível, pois é como admitir que possam haver falhas, mas que há um compromisso, desde àquela admissão de se buscar uma transparência com o interlocutor. Da mesma forma que a objetividade cai por terra quase que pelos mesmos motivos e pela mesma linha de raciocínio anterior. E, por fim, vemos que a factualidade é algo que nem sempre se pauta sobre aquilo que o público realmente deseja assistir e sim por aquilo que outras pressões – diversas, mas principalmente de cunho capital. – colocam na agenda setting da população.
Em questões práticas, o que Luciano Correia tenta mostrar é que vivemos num ambiente midiático pautado por um mesmo formato, o formato capitalista. Como diria o diretor de Marketing da TV Aperipê a TV comercial disputa os olhos dos consumidores em frente aos aparelhos de televisão. Consumidores. É importante frisar essa palavra, pois ela resgata o nascedouro da TV no Brasil. Assim, percebemos como a produção televisiva é construída de modo a vender da melhor forma possível seu produto: a informação e o entretenimento. Perpassamos sobre a questão estética e o apelo à imagem (ou a qualidade dela), bem como a padrões, formatos, que são exaustivamente seguidos e repetidos massificando, sim, um modo de fazer televisão.
E fica extremamente complicado subverter esse panorama, ainda mais se considerarmos os ataques diretos que a hegemonia privada de telecomunicações fazem contra os minoritários esforços das TV públicas e comunitárias. É um ataque ferrenho que se baseia também numa outra falácia: a da qualidade e a audiência. Qualidade é algo questionado, logo de cara, por contar uma subjetividade impressionante. Mas, segundo o próprio discurso da hegemonia percebemos que é a qualidade de imagem e essa realmente será difícil de burlar ou alcançar. O que não pode ser sacrificado, e essa é uma linha ascendente, é que a qualidade de conteúdo. Esta sim deve ser preservada, defendida e mantida. Fica evidente, entretanto, que dia após dia o conteúdo passa a ser sacrificado pela forma numa sátira do pós-modernismo onde a forma e a aparência superam a essência. E a audiência, ou melhor, a sua falácia entra justamente porque é muito difícil fazer frente ao discurso hegemônico já tão enraizado na sociedade brasileira. É um trabalho exaustivo, minucioso e que exige paciência. Como você pode atestar que a população gosta e assiste determinada programação se em todos os canais disponíveis ela encontra exatamente o mesmo lixo, digo, tipo de programas dos demais?
Entendendo esses pontos, fica fácil compreender o modo como a TV digital está sendo processada aqui no País. Um meio que poderia ser um divisor de águas para a comunicação do Brasil, devido às possibilidades de interatividade, multimidialidade e pluralidade já está sendo brutalmente atacado pela insistência e força de algumas empresas de telecomunicações – e porque não dar nome aos bois? –, principalmente a TV Globo, que munida de suas falácias coloca novamente o padrão estético (a qualidade da imagem) acima de uma qualidade de conteúdo.
Pois, onde uma banda poderia abrigar quatro canais diferenciados, com programação também diversa, eles desejam fundir numa programação só para ter uma definição mais alta. O que há por trás disso, porém, é aquele mesmo pensamento elitista e preguiçoso da mídia que se pauta pela organização capitalista. Para quê mais canais, para forçar ela a produzir mais conteúdo, contratar mais gente? Ou pior, ceder um espaço que é “seu” – não por direito, pois as outorgas são nossas, da sociedade brasileira. Públicas! – a outras emissoras? A que custo? Certamente, essa visão de migração digital passa bem longe das mentes – e dos bolsos. – dos donos da mídia. A questão é: Como nós, comunicadores sociais, vamos nos portar diante dessa polarização? E elenco como condição inicial para essa posição – olha a parcialidade! – a crítica, pois sem ela não há como fugir da alienação e ideias falidas que ainda insistem em comparar a comunicação com um fenômeno de agulhas ou balas fictícias.